Produtores de café no Brasil temem tarifas de Trump e impacto no mercado global

Preocupação entre produtores do Rio de Janeiro

Em Vassouras, cidade localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, produtores de café acompanham com apreensão a aproximação do dia 1º de agosto, quando entrará em vigor uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos. A medida, anunciada no início de julho pelo presidente norte-americano Donald Trump, representa um aumento significativo em relação aos atuais 10%, afetando diretamente o setor cafeeiro nacional.

Thiago Garcia, produtor local, destacou à Reuters a relevância do Brasil no setor: “Somos o maior produtor e exportador de café do mundo”. De fato, cerca de um terço do café consumido nos EUA — o maior mercado mundial da bebida — é proveniente do Brasil, que tem enviado anualmente cerca de 8 milhões de sacas de 60 quilos ao país, segundo dados do setor.

Tarifa ameaça sustentabilidade dos pequenos produtores

A nova tarifa imposta por Trump é vista por analistas como um divisor de águas no mercado cafeeiro mundial. Embora o Brasil responda por 37% da produção global de café, mais de dois terços dessa produção vêm de pequenos agricultores, muitos deles em regiões como o noroeste fluminense. Esses produtores, com recursos financeiros limitados, enfrentam agora uma combinação de fatores adversos: queda de 33% no preço do arábica desde fevereiro, efeitos das mudanças climáticas como a seca, e a iminente taxação que pode reduzir drasticamente sua competitividade no mercado americano.

Para agricultores como José Natal da Silva e Paulo Menezes Freitas, que dependem dos Estados Unidos para até 60% de sua receita, a situação ultrapassa os limites de uma simples instabilidade de mercado. Trata-se de uma ameaça direta à sua subsistência.

Cadeia de suprimentos pressionada: alternativas têm limitações

Importadores americanos já se movimentam para diversificar seus fornecedores. Entretanto, a substituição do Brasil não é simples. Vietnã, Colômbia e Etiópia surgem como opções, mas todas apresentam limitações. O Vietnã tem investido na produção de robusta, mas ainda carece de um setor desenvolvido de arábica. A Colômbia é reconhecida pela qualidade, mas sua capacidade produtiva é restrita. A Etiópia, por sua vez, oferece perfis únicos de café para torrefadores especializados, mas enfrenta gargalos logísticos.

Esse cenário tem provocado um aumento expressivo nos preços do café verde, que já ultrapassaram os US$ 4 por libra nos Estados Unidos. A expectativa é de que o consumidor final enfrente um reajuste de 15% a 20% nos preços até o fim do ano. Torrefadoras menores americanas enfrentam o dilema de absorver os custos ou repassá-los, arriscando perder clientes sensíveis ao preço.

Impactos no mercado financeiro: riscos e oportunidades

Para os investidores, a crise representa um alerta sobre a volatilidade do mercado de commodities e a influência das decisões políticas nas cadeias produtivas globais. Algumas estratégias estão ganhando destaque:

Apostar em futuros de café
Contratos de futuros de arábica na NYSE (KC) tornam-se atrativos diante da projeção de queda de 12,4% na produção brasileira em 2025, somada à demanda estável dos EUA. Esses papéis podem funcionar como proteção contra a inflação prolongada dos preços.

Investir em varejistas com força de marca
Empresas como Starbucks (NASDAQ: SBUX) e Peet’s Coffee (NASDAQ: PEET) possuem modelos que permitem repassar aumentos de custo sem perder mercado. Sua base fiel de clientes e o posicionamento premium oferecem resiliência frente à crise.

Reduzir exposição em exportadoras brasileiras
Empresas com forte dependência do mercado americano, como a Cargill (NYSE: CG) e fundos com participação na J. Safra Sarasin, podem sofrer quedas expressivas de margem caso a guerra comercial se prolongue.

Futuro incerto e expectativas por uma solução diplomática

Enquanto o mercado se adapta ao novo cenário, produtores brasileiros ainda esperam uma reviravolta diplomática de última hora que reverta a imposição das tarifas. Com o prazo se esgotando, a tensão cresce tanto no campo quanto entre investidores e consumidores, que devem sentir os efeitos dessa medida nas gôndolas e nas cafeterias muito em breve.